quinta-feira, 11 de julho de 2013

Surdoués. Uma tempestade sobre um crânio.

Um turbilhão agita os pensamentos, as representações, as lembranças, as frases tanto repetidas, os medos escondidos... mas eu sei também que as faíscas de pensamento reacendem esta vivacidade intelectual sempre intacta e com a qual, apesar de tudo, o adulto sobredotado continua a se conectar. Em segredo.
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Do cérebro dos sobredotados:
Os primeiros malentendidos: não compreender os implícitos, não decodificar o sentido das palavras.
Dependência em relação ao campo. Estilo cognitivo diferente.
Sempre dependente do contexto afetivo. Ele não sabe, não pode funcionar sem levar em conta a dimensão e a carga emocional presente.
Do muito pensar à impulsividade. Uma particularidade de funcionamento na origem de conflitos inúteis.
A resposta intuitiva: não poder aceder aos procedimentos. Vias ultrarápidas e por si mesmas imperceptíveis à consciência.
Hiperestesia ou a percepção intensiva de todos os sentidos. A sinestesia, uma surpreendente competência sensorial.
A empatia que capta as emoções dos outros.
Pensamento linear e pensamento em arborescência (este último, o dos sobredotados.)
O déficit de inibição latente.
S. Facchin

Atenção à hipersensibilidade desses sobredotados em arborescência...
Surdoués. A inteligência torna-os felizes?
Sem dúvida, eles são raros, mas eles existem.
Esta inteligência não é algo sem importância, pois pode infelizmente ser causa de inveja entre seus colegas. Frequentemente, estes 'cérebros ambulantes' são solitários visto que eles não encontram exatamente o que convém. Esta constatação é tão mais inquietante quando os especialistas se perguntam se a inteligência permite aos sobredotados serem felizes.
De fato, precisar-se-ia desenvolvê-lo para fazê-lo um trunfo, em lugar de uma desvantagem, uma deficiência, que arrisca empurrar o sobredotado a se engelhar numa bolha desconectada do mundo.
A estratégia ideal: não empurrar o precoce a ser vítima da magia de seus neurônios. Eles podem ser os 'nulos' da classe, e podem reluzir em domínios que fazem 'o cérebro trabalhar'.
À força de querer juntar-se aos colegas 'ordinários', a maioria destes precoces acabam por 'descer de seu pedestal', e é seu futuro que empata grandemente. 'Eles têm estratégias cognitivas diferentes dos outros colegas mas que não são automaticamente sinônimos de sucesso escolar, pois eles acabam por largar mão, e preferem se integrar do que acabar seus dias solitários.'
No percurso escolar/universitário, a menina tenta se adaptar mais, porém sob um imenso esforço.
Eles têm dificuldade de fazer amigos duráveis. Por consequência, o sobredotado decide conversar com pessoas bem mais adultas, pois, justamente, estas tem o ar de serem mais interessantes e de certa forma mais maduras, instruídas, afirma a pedopsiquiatra Ghizlane Benjelloun.
Decididamente, a vida psico-emocional do surdoué não é sempre fácil de viver, pois mais que ser vítima de seu próprio saber, eles têm constantemente necessidade de serem encorajados e não excessivamente invejados, ou até mesmo odiados...
Além disso, existem, favoravelmente, os sobredotados altruístas. Aqueles que não absorvem facilmente a pretensão em face do menor sucesso e sabem ganhar a amizade dos seus camaradas de classe. Esta categoria incluiu a receita ideal de toda integração alcançada: 'falar de seus sentimentos e se interessar pelos seus pares e suas atividades ajudam o precoce a se integrar', como diz bem a especialista. Somado tudo, para responder à problemática 'a inteligência torna feliz', os especialistas insinuam que isso não pode contribuir ao bem-estar deste ser extremamente sensível, senão enquanto este último se sentir amado.
Por Houda BELABD, Le matin, 2009. Trechos.

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Pode-se encontrar nas linhas que se seguem modos de funcionamento que se encontram em outros perfis de personalidade. É verdade. Mas o que é específico no sobredotado, como sempre, é a intensidade de cada uma dessas expressões de si. E o sofrimento que aí pode ser associado. A totalidade e a frequência da aparição destas características de personalidade permite identificar este grupo, distinto dos outros, que compõem os adultos sobredotados. É nato.
Uma inteligência arborescente.
Hiperativação cerebral. 

Com o diagnóstico, com este novo clarão, surge a sensação, muito forte, de ter, enfim, < entrado em si >. A sensação de ter < chegado > depois de longos anos de errância.

< Era isso, então! >, < Ouf! > Estes são os termos que os adultos que acabam de ser descobertos exprimem quase unanimamente, seu imenso alívio.

Dizer ou não dizer
E sobretudo dizer o quê? Dizer como? Já, para as crianças, é geralmente difícil explicar aos outros. As más interpretações são muito rápidas. Então, quando se é adulto, não é um pouco peculiar explicar que se é sobredotado? Que é por isso que não se sente muito bem? Que é por causa deste perfil atípico que se desenvolveu certas inadaptações? Que é a nossa inteligência que é a origem de nossos sofrimentos? Que é porque se é sobredotado que se reage emocionalmente tão forte? Veja você, a grande dificuldade é de não poder dizer simplesmente as coisas. Sob o risco de um novo mal-entendido. Ou pior, zombarias ou escárnios, que, mesmo se elas são afetuosas, não serão menos magoáveis. Falar do diagnóstico significa tudo explicar. Tudo contar. Para estar seguro de estar bem compreendido. Pois é disto que se trata. Se permitir novamente uma chance de ser compreendido por aqueles que se ama. Por aqueles que contam.
surdoué é como um instrumento high tech, forte, porém extremamente frágil.

Eu serei franca. É difícil fazer passar. Poucos são capazes de integrá-lo em todas as dimensões que comporta este diagnóstico. Poucos chegarão a integrá-lo todas as nuances. Então, sim, você poderá falar sobre. Mas somente àqueles que saberão vos ouvir. Somente àqueles com os quais uma partilha pode vos ajudar, vos fazer avançar. Ou fazer evoluir uma relação. Restem prudentes. Como vocês aprenderam a fazer desde muito tempo. Vocês o sabem, procurar a compaixão ou simplesmente a compreensão dos outros pode se revelar terrivelmente doloroso quando é a estranheza que se acha no extremo do caminho.
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Um cérebro num estado permanente de hiperatividade, com conexões a grande velocidade e que se desdobram em todas as áreas do cérebro simultaneamente. Um borbulhamento cerebral permanente que amplia consideravelmente as capacidades do pensamento, mas que torna-se rapidamente muito difícil a canalizar. 
“Eu tenho tão plena a cabeça que eu tento falar muito rápido para tudo dizer, mas eu me atrapalho, é a catástrofe.” 
“Eu penso em tantas coisas de uma vez que por momentos eu não sei mais onde eu estou, eu perco o fio de meu pensamento. Isto vai muito rápido e eu tenho a impressão de esquecer as idéias essenciais.”

O TRATAMENTO MULTIESPACIAL 
Quando se fala de tratamento de informação, evoca-se a maneira pela qual o cérebro trata o conjunto de informações que provêm do exterior ou do interior de si. O exterior, é o que se passa em torno de nós e que é captado pelos nosso cinco sentidos. O interior leva em conta o que nos temos na cabeça e que emana de nossas lembranças, de nossas associações de idéias, de nossas representações...
No sobredotado, todas as informações são captadas nas redes de neurônios que circulam e se repartem em várias partes do cérebro. As conexões não são localizadas num zona cerebral distinta (o que se observa atualmente com as localizações funcionais). De mais, o tratamento é simultâneo, o que significa que tudo é tratado ao mesmo tempo e ao mesmo nível de importância. O número de neurônios tocados é reduzido de velocidade. Eles os tem efetivamente... cheia a cabeça! 
O DESAFIO: SELECIONAR A INFORMAÇÃO PERTINENTE

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A lucidez estonteante
“A lucidez é a ferida a mais próxima do sol.”
René Char

Como viver com esta lucidez que inunda tudo o que o cerca? Que escruta o menor recanto? Que encontra o menor detalhe? Uma lucidez que penetra o mais profundo do outro? A lucidez do sobredotado é tanto mais potente quanto ela se alimenta de uma dupla fonte:
- a inteligência aguçada que disseca e analisa,
- a hiperreceptividade emocional que absorve a mais ínfima partícula de emoção ambiente.

Esta lucidez penetrante não permite nenhum sossego. E o sobredotado não pode desligar este raio que o habita, que funciona sem relaxamento. Torna-se mais difícil de se sentir em segurança. A lucidez cria oscilação, não identificada nos manuais de psicologia, e perto do sofrimento sempre.

Todos os adultos sobredotados explicam o quanto é doloroso ser invadido por esta percepção aumentada do mundo. Como, quando, pequeno, se observa as formigas evoluírem no formigueiro nas paredes rudimentares. A lucidez exacerba e amplifica, mas sobretudo não permite jamais < não ver >. Como é mais fácil viver quando não se analisa os disfuncionamentos ambientes, quando não se se encontra a pensar, refletir, sobre um problema anódino, quando não se sente tocado por uma emoção a priori desprezível.
A lucidez sobre o mundo dá uma grande lucidez sobre si.

Quando se funciona com esta faculdade de perceber e dissecar incansavelmente o mundo, que se o percebe com acuidade as fragilidades e os limites dos outros, como não perceber, primeiro, suas próprias falhas? Eis o que espia, a cada passo, o sobredotado. Quando se é sobredotado, não se sente jamais, mas então jamais, superior aos outros. E entretanto, esta idéia do sentimento de superioridade que se vivenciaria porque se é sobredotado martela tanto os espíritos... daqueles que não o são!

A intensidade do pensamento arrasta a um ponto do infinito. Onde se sente aspirado num movimento sem fim e sem limites. É uma sensação que cria um real mal-estar pois não se sabe mais a quê se ligar. Perdemo-nos e nada nos para. Nada vem nos proteger. Nestes momentos, é como se a vida se tornasse progressivamente um ponto microscópico que se afasta a toda velocidade. A golfada de angústia nunca está muito longe.

< Quando eu me coloco a pensar muito, eu tenho a impressão que eu posso cair num coma de pensamento >, explica Raphaël, 22 anos. Esta sensação lhe faz tanto medo que ele procura mil e um subterfúgios para não ter um minuto para pensar.

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O medo.
Este pavor pode produzir embaraços.
Alguns sobredotados testemunham momentos de pânico total em situações onde seu pensamento, sua sensibilidade captam os perigos potenciais para eles ou para os outros. Eles se sentem por vezes os < guardiães > do mundo pois eles são verdadeiras torres de controle que não soltam jamais seu posto. Quando eles se sentem impotentes para prevenir o perigo ou se proteger dele, sua hipereatividade emocional transforma seu pavor em torrente.

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Seu nível de exigência mais elevado, é ele que se coloca na realidade. Não sempre ou não verdadeiramente os outros. Mas, para ele, nada está jamais tão bem ao nível do seu olhar, ao que ele considera que teria devido alcançar. Sem saber verdadeiramente aliás qual seria o fim a alcançar. É preciso compreender que não se trata de uma realidade, mas de uma representação de si e do êxito que cria um sentimento de inacabamento permanente. Então se se esgota numa busca desordenada à procura de um fim quimérico já que ele não poderá jamais estar satisfeito e pela mesma possibilidade de alcançar.
Compreender, sobretudo compreender, que é o olhar sobre si que perturba, a imagem de si permite dilacerar um véu opaco sobre o qual se sofre em silêncio.

Quando a arborescência transborda, quando não se sabe mais o quê e como pensar, e a intensidade emocional faz bater o coração e as têmporas a tudo romper, o sobredotado, de repente, corta curto. Subitamente desliga. E isto pode se passar não importa onde, não importa em qual momento. Um pouco como um disjuntor: quando a sobrecarga é muito relevante, automaticamente, ele desliga. Para evitar um risco de incêndio. No sobredotado, é parecido. Seu sistema funciona sobre o mesmo modelo: a carga é insustentável? Ele para. O que vai se traduzir numa parada brutal em plena frase, pelo olhar que de repente se fixa num detalhe insignificante, pelo corpo que se imobiliza em pleno movimento, ou ao contrário se alonga em plena conversa... tudo é possível. O sobredotado não se dá conta do momento. De todo. Ele não tomará consciência se você não o trouxer à realidade. Mais ou menos gentilmente aliás. Este gênero de atitude desconcertante o rodeia. Coloca-se rapidamente um mal-estar pois os outros não compreendem o que se passa. E podem se ofender terrivelmente.

Este cortes de pensamento podem também produzir-se em situações intelectualmente e emocionalmente mais neutras: os momentos de tédio. Num certo tempo, o sobredotado se mantém conectado, e isto lhe demanda energia. Depois, como eu acabei de escrever, é o branco e a fuga, pelo pensamento e pelo comportamento.

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» A inibição intelectual como estratégia de adaptação

“Ser um verdadeiro idiota, é um bom remédio para minha doença. Eu tenho necessidade de um tratamento radical: ser um idiota, isto será a quimioterapia de minha inteligência. É um risco que eu tomo sem hesitar. Mas se, em seis meses, você perceber que eu me esgoto um pouco mais , intervenha! Meu objetivo não é tornar-me estúpido, mas deixar circular moléculas no meu organismo, para purificar meu espírito muito doloroso. Mas não intervenha antes de seis meses. [...] É também um risco. Tanto mais que ser imbecil comporta muito mais prazer que viver sob o jugo da inteligência. Se se é mais feliz, é certo. Eu não deveria guardar o sentido da imbecilidade, mas os elementos benéficos que aí nadam como oligoelementos: a felicidade, uma certa distância, uma capacidade de não mais sofrer de minha empatia, uma leveza de vida, de espírito. De despreocupação! [...] Finalmente, tornando-se estúpido, eu poderia, por uma vez, fazer prova de uma surpreendente inteligência. Você me acha pérfido?(1)”
(1) Martin Page, Como eu me tornei imbecil, Comment je suis devenu stupide. Le Dilettante, 2000.

Inibir-se para sobreviver...

Não poder ser no exterior o que se vive no interior.

"Com fazer para ajudar Grégoire? Seu problema, é a diferença entre seu físico de pequeno adolescente e sua maturidade de jovem adulto. Ele não pode nada. Os outros o vêem sob o olhar de sua aparência. E se ele se coloca a ser verdadeiramente como ele é, a falar, a funcionar em conformidade com o que ele vive no interior de si mesmo, ele se arrisca de se fazer rejeitar pelos outros pois então ele pareceria estranho. Então, como ele o diz tão bem, ele < usa> sua maturidade no interior de si mesmo. Mas isso o esgota. Ele não vai aliás muito bem, nem fisicamente – ele tem dores de estômago constantes – nem psicologicamente – ele fica deprimido. Mas ele retém, a toda força e a todo preço. Porque ele quer superar estes anos difíceis, porque ele vê mais longe. Com uma visão estendida e prospectiva que lhe dá sua... hipermaturidade!" Porém, ao mesmo tempo!, uma grande ingenuidade, uma criança que muitas vezes é obrigada a dar ares de adulto... Já na fase infantil, um rico vocabulário, porém, não encontra as palavras certas, ao falar, que abranjam o todo que deseja dizer. Apenas se em conecto no momento com suas emoções e seu verdadeiro.

< Tinha sempre parecido à Antoine ter a idade dos cães. Quando ele tinha 7 anos, ele se sentia maduro; aos 11, ele tinha desilusões de um velho de 77 anos. Hoje, com 25 anos, esperando uma vida uma pouco doce, Antoine tomou a resolução de cobrir seu cérebro com o sudário da estupidez. Ele não tinha senão muito constatado que se tem frequentemente mais vantagem em ser imbecil que intelectual juramentado. A inteligência torna infeliz, solitário,  quando o disfarce da inteligência oferece uma imortalidade de papel gelado (1). > (1) Martin Page, Como me tornei imbecil, Comment je suis devenu stupide. Le Dilettante, 2000.

A leitura, geralmente antes da hora.
Compreende você o tempo habitual, a famosa fronteira do CP. Por que ela lê? Porque ela procura compreender o mundo e porque ela capta muito rápido que o acesso à linguagem lhe abrirá as portas do infinito. E justamente, ele, o infinito, é seu estratagema! Então ela pede para aprender. Seus pais ficam frequentemente desconcertados: eles têm o direito? Que hegemonia da escola que culpabiliza os pais que respondem simplesmente à curiosidade de seu filho! Eles se ouvirão por vezes dizer, com efeito, que um aprendizado <selvagem> pode prejudicar a aprendizagem <acadêmica>. Que isto poderá causar problemas na escolaridade da criança... Eu compreendo a inquietude dos professores em face de uma hipotética hiperestimulação parental e o medo que esta criança torne-se um <macaco sábio>. Mas seria agitar este gênero de espantalho em face dos pais, que estão somente atentos a este desejo de aprender tão espontâneo na criança. Que perigosa deriva! Pais, fiquem tranqüilos. Se sua criança tem desejo de aprender a ler, ajude-a. Ela tem somente necessidade de um guia, não um mestre. Ela entrará na leitura com um verdadeiro desejo de descobrir o mundo. Bonito presságio!
Depois, muito rapidamente, a criança lê tudo. Glutamente. Avidamente. Sua jubilação é intensa. Ela lê as caixas de cereais, os pubs nas ruas, letreiros da loja... Ela exulta! 

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» Quando o tempo não está sincronizado com o que se vive: não poder aproveitar das coisas
É uma combinação da falha espaço-temporal e da diferença do tempo: o sobredotado tem dificuldade de estar totalmente no que ele faz, no que ele vive. Seu pensamento o conduz a analisar seu presente em lembranças ou num passado mais amplo, mas também a se projetar num futuro onde ele se recordará do que ele está em forma de viver no aqui e agora.
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O tratamento simultâneo funciona de toda outra maneira. E é este o do sobredotado. A partir de um estímulo, de uma idéia, de uma instrução, toda uma rede associativa de pensamentos se desdobra a grande velocidade. Cada idéia gera uma outra sem que um vínculo lógico sustente essa associação. De mais, vários eixos de pensamentos se desenvolvem simultaneamente, criando uma real arborescência do pensamento. Imagens, sensações, emoções vão alimentar esta arborescência que se torna mais e mais complexa e cujos múltiplos <galhos> abrem-se ao infinito. Rapidamente, a densidade dos pensamentos é elevada e torna-se bem improvável de esperar organizá-los e estruturá-los. Favorável à emergência das idéias novas e criativas, surgimento de um pensamento rico, forte em imagens e em emoções, o pensamento em rede não é aquele da linguagem que explica claramente nem do raciocínio que argumenta logicamente.
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Quando os perfis não são diretamente significativos
A ansiedade
Um teste como o WAIS é muito sensível a numerosos fatores. A ansiedade é seu principal detrator. A ansiedade dos adultos durante a passação de um teste é sempre importante. Ela tem duas faces: aquela, positiva, que permite mobilizar os recursos de maneira otimizada, e aquela, mais sombria, que acaba por inibir a expressão intelectual pela sua intensidade. Pode-se também concluir que o conjunto dos resultados seja minorado pela ansiedade. Mais frequentemente, certas provas serão particularmente falhas ao passo que outras serão preservadas e então alcançadas. É preciso saber que no WAIS o peso da ansiedade não produz os mesmos efeitos segundo a natureza das provas.

A depressão, por exemplo, atenua consideravelmente a plena expressão do potencial intelectual. Quando se é confrontado com um quadro depressivo (confirmado por outras provas do balanço), as marcas do WAIS devem ser interpretadas incluindo o incidente dos estados afetivos depressivos. Terão uma influência sobre os resultados dos testes e devem se inscrever no processo diagnóstico.
As dificuldades específicas se farão mais ou menos sentir nos diferentes domínios explorados.
A heterogeneidade entre duas escalas
Uma marca muito elevada numa escala, comparativamente a uma marca significativamente muito baixa em outra, será estudada segundo o sentido da diferença.

• Quando é a escala verbal que é particularmente alcançada, pode-se pensar que o investimento da inteligência tem uma grande importância para aqueles que passam nos testes. Apoiar-se sobre seus conhecimentos, sobre sua memória, sobre sua lógica, sobre suas capacidades de abstração, pode refletir um mal-estar psicológico quando o intelecto é utilizado como mecanismo de defesa. Esta diferença pode também explicar-se pela natureza diferente das provas entres as duas escalas. Na escala verbal, pode-se ativar mais facilmente os recursos intelectuais bem integrados na memória, é geralmente com esta inteligência que se funciona no cotidiano. Em revanche, na escala performance, trata-se de mobilizar as competências inabituais, o que para alguns se revela difícil quando eles estão convencidos... que eles não o podem!

• Um alto nível de QI na escala performance sinaliza uma inteligência potente. O potencial está lá, mas algumas dificuldades na expressão deste potencial bloqueou sua atualização e sua plena utilização. Encontra-se igualmente esta configuração naqueles cujo stress ou inibição na relação no momento do teste impedem de exprimir verbalmente suas competências e seus saberes. Na escala verbal, uma interação direta e verbal é engajada com o psicólogo, enquanto que as atividades cognitivas da escala performance são não verbais e mais autônomas. Para certos adultos, esta relação pode ser difícil a sustentar. Quando é preciso fazer as coisas sozinho, isto vai bem. Quando é preciso dizer as coisas a outro, o mal-estar é muito forte.

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Uma ou várias inteligências?
A crítica a mais corrente a respeito dos testes de inteligência clássicos reporta ao fato que estes testes não levam em conta senão uma parte da inteligência. Em particular a inteligência dita acadêmica, a inteligência verbal, o raciocínio lógico-matemático e as competências visual-espaciais. É verdade. Mas é preciso compreender que a especificidade de um teste como o WAIS é sua validade. O que quer dizer que os estudos atestam sua excelente correlação com outros testes que avaliam a inteligência sob outras formas: quando se tem um QI elevado no WAIS, isto significa que se obteria um resultado elevado em outros testes de inteligência. É isto que se chama validade de um teste e isto é que faz a diferença entre um teste estandartizado e um teste fora da validação científica.

Por outro lado, as outras formas de inteligência (emocional, musical, intra e interpessoal...) falam de competências pessoais e de fontes de personalidade. Algumas essenciais. Elas são bem evidentemente incluídas na inteligência geral, mas restam pouco pertinentes quando elas são isoladas de uma avaliação global.
O WAIS é a estrela das escalas de inteligência para adulto, é o teste mais correntemente utilizado no mundo. O WAIS é o instrumento dos psicólogos e permite uma avaliação de eficiência intelectual global. A escada é construída de maneira a obter uma pontuação global de QI que seja o mais justo reflexo da inteligência geral.
Não esqueçamos que o QI não é uma pontuação absoluta, mas uma pontuação relativa. Não se trata de uma medida de inteligência, mas de sua expressão.
 As provas de escala verbal são classicamente consideradas como aquelas as mais correlacionadas aos conhecimentos adquiridos, à memória, às competências matemáticas. De uma certa maneira, elas se referem à bagagem intelectual da qual se dispõe, fruto da cultura, do aprendizado e da experiência. É o que é chamado de inteligência cristalizada.


As provas de performance, elas, são as tarefas inéditas cujo sucesso não depende senão da capacidade do sujeito ativar, no aqui e agora do processo,  estratégias cognitivas novas. É a inteligência fluida, independentemente de toda aprendizagem prévia, aquela que reflete mais precisamente os recursos intelectuais do qual dispõe aquele que passa pelo teste.
Um balanço à idade adulta, um processo corajoso e difícil.

~ Ser sobredotado é, primeiro e antes de tudo, um modo de ser inteligente, uma forma atípica de funcionamento intelectual, uma ativação de recursos cognitivos cujas bases cerebrais diferem e cuja organização mostras singularidades inesperadas.
Não se trata, somente, de ter uma inteligência quantitativamente elevada, mas de dispor de uma inteligência qualitativamente diferente. Não é verdadeiramente a mesma coisa!
(Autora, S. Facchin.)

Tradução, Viviane Anetti.